Auto retrato de Holbein, o Jovem (1542-1543)
Segundo Johnson (2005)[1], embora a existência dos retratos date muito antes do período conhecido como Renascença, foi somente no início do século XV que os retratos deixaram de representar exclusivamente a realeza, o clero e grandes nobres para representar outras categorias da sociedade, como importantes comerciantes, mulheres e até mesmo artistas. A exemplo dessa mudança, o auto retrato de Hans Holbein acima, cuja precisão de detalhes, além de evidenciar a qualidade artística do pintor, indica uma preocupação, retomada no Renascimento, pela fisiologia do indivíduo. Holbein, renomado pintor da corte de Henrique VIII, da dinastia Tudor, tendo o monarca como seu principal mecenas; foi especialista em retratos, o que era muito comum à época, tendo desenhado além de retratos xilogravuras, pedrarias e joias.
Whitehall Mural Cartoon- Hans Holbein, 1537 |
A obra intitulada
The Whitehall Mural Cartoon foi produzida por Hans Holbein em 1537, cujo ano
de produção foi marcado pelo próprio pintor, como é possível perceber no canto
superior direito da imagem. Se atentarmos para os retratos de Henrique VIII
produzidos posteriormente, é clara a utilização da obra de 1537 como modelo para
os retratos posteriores. Sendo assim, sequer é necessário que prestemos atenção
às características fisiológicas do indivíduo; a postura, os trajes, as luvas na
mão esquerda, um símbolo de nobreza, e a espada na mão direita , um símbolo de
bravura, nos levam imediatamente a identificar a figura de Henrique VIII.
King Henry VIII, 1537-1562 |
King Henry VIII, 1537-1557 |
King Henry VIII, after 1560 |
King Henry VIII, 1550-1599 |
King Henry VIII, 1560-1573 |
King Henry VIII, 1567 |
Embora
tenha havido no Renascimento uma explosão na produção de retratos, tanto de
monarcas, nobres e clérigos quanto das categorias já mencionadas aqui; há neste
período uma diferença crucial no que concerne ao modo como o indivíduo é retratado.
Se analisarmos os retratos produzidos durante a idade média é possível perceber
uma grande homogeneidade fisionômica; não há uma precisão semelhante a do
Renascimento em relação às características fisiológicas ou psicológicas do
indivíduo, tampouco a presença de elementos que auxiliem na identificação da
identidade do retratado. Se compararmos alguns retratos de períodos anteriores
ao Renascimento é possível perceber semelhanças muito intensas que tornam quase
impossível distinguí-los se aproximarmos os rostos. Nas duas imagens abaixo, há
consecutivamente as representações de Santo Estevão e de Maria, no entanto,
tanto a postura quanto o ângulo do rosto e os traços de ambas as figuras formam
uma homogeneidade que permite confundi-los, sendo, portanto a diferenciação feita
através das vestes e cores.
Já no Renascimento os indivíduos
além de serem retratados com rigorosa precisão fisiológica, são também envolvidos
por uma variedade de símbolos que ajudam a identificar o indivíduo
representado. Segundo Johnson
(2005), a habilidade de representar uma imagem ou objeto, assim como sua função
e iconografia eram tão apreciadas quanto o caráter estético da obra de arte
durante o Renascimento. A exemplo disso, podemos observar abaixo dois retratos
produzidos por Hans Holbein:
Erasmus 1523 Hans Holbein, O Jovem
Segundo
o historiador David Starkey, em comentário disponível em The NationalGallery,
este retrato de Erasmo marca o inicio, de fato, do retrato realista além de
representar a invenção da própria personalidade considerando o fato de neste
período a pintura ser composta não só de imagens,mas também de palavras que ora
fazem relação com o retratado, ora expõem as idéias do artista. Neste caso, a
pintura de Erasmo é apresenta objetos que simbolizam os interesses e a
profissão do humanista, como sua tradução do Novo Testamento para o latim em
que Erasmo se apóia; no mesmo objeto há uma frase que evidencia a qualidade
artística de Holbein “ I am Johannes Holbein, whom it is easier to denigrate
than to emulate.” (Tradução para o inglês disponível em The National Gallery)
A Lady with a Squirrel and a Starling 1526-8, Hans Holbein
Este
retrato, provavelmente pintado durante a primeira visita de Holbein à
Inglaterra, segundo o website The National Gallery apresenta o retrato de uma
mulher muito provavelmente, uma babá chamada Anne Lovell, cuja família tinha
como símbolo o esquilo, retratado na imagem junto à Anne, supostamente, e a um
estorninho.
Referências
[1]Johnson, Geraldine A. Renaissance art: a very short introduction. Vol. 129. Oxford University Press, 2005.
[1]Johnson, Geraldine A. Renaissance art: a very short introduction. Vol. 129. Oxford University Press, 2005.
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