terça-feira, 13 de dezembro de 2016

Auto retrato de Holbein, o Jovem (1542-1543)


Auto retrato de Holbein, o Jovem (1542-1543)

Segundo Johnson (2005)
[1], embora a existência dos retratos date muito antes do período conhecido como Renascença, foi somente no início do século XV que os retratos deixaram de representar exclusivamente a realeza, o clero e grandes nobres para representar outras categorias da sociedade, como importantes comerciantes, mulheres e até mesmo artistas. A exemplo dessa mudança, o auto retrato de Hans Holbein acima, cuja precisão de detalhes, além de evidenciar a qualidade artística do pintor, indica uma preocupação, retomada no Renascimento, pela fisiologia do indivíduo. Holbein, renomado pintor da corte de Henrique VIII, da dinastia Tudor, tendo o monarca como seu principal mecenas; foi especialista em retratos, o que era muito comum à época, tendo desenhado além de retratos xilogravuras, pedrarias e joias. 
Whitehall Mural Cartoon- Hans Holbein, 1537
            A obra intitulada The Whitehall Mural Cartoon foi produzida por Hans Holbein em 1537, cujo ano de produção foi marcado pelo próprio pintor, como é possível perceber no canto superior direito da imagem. Se atentarmos para os retratos de Henrique VIII produzidos posteriormente, é clara a utilização da obra de 1537 como modelo para os retratos posteriores. Sendo assim, sequer é necessário que prestemos atenção às características fisiológicas do indivíduo; a postura, os trajes, as luvas na mão esquerda, um símbolo de nobreza, e a espada na mão direita , um símbolo de bravura, nos levam imediatamente a identificar a figura de Henrique VIII.

   King Henry VIII, 1537-1562

King Henry VIII, 1537-1557

King Henry VIII, after 1560

King Henry VIII, 1550-1599

King Henry VIII, 1560-1573  

King Henry VIII, 1567
              


    Embora tenha havido no Renascimento uma explosão na produção de retratos, tanto de monarcas, nobres e clérigos quanto das categorias já mencionadas aqui; há neste período uma diferença crucial no que concerne ao modo como o indivíduo é retratado. Se analisarmos os retratos produzidos durante a idade média é possível perceber uma grande homogeneidade fisionômica; não há uma precisão semelhante a do Renascimento em relação às características fisiológicas ou psicológicas do indivíduo, tampouco a presença de elementos que auxiliem na identificação da identidade do retratado. Se compararmos alguns retratos de períodos anteriores ao Renascimento é possível perceber semelhanças muito intensas que tornam quase impossível distinguí-los se aproximarmos os rostos. Nas duas imagens abaixo, há consecutivamente as representações de Santo Estevão e de Maria, no entanto, tanto a postura quanto o ângulo do rosto e os traços de ambas as figuras formam uma homogeneidade que permite confundi-los, sendo, portanto a diferenciação feita através das vestes e cores.
    
       Já no Renascimento os indivíduos além de serem retratados com rigorosa precisão fisiológica, são também envolvidos por uma variedade de símbolos que ajudam a identificar o indivíduo representado. Segundo Johnson (2005), a habilidade de representar uma imagem ou objeto, assim como sua função e iconografia eram tão apreciadas quanto o caráter estético da obra de arte durante o Renascimento. A exemplo disso, podemos observar abaixo dois retratos produzidos por Hans Holbein:



Erasmus 1523 Hans Holbein, O Jovem
 Segundo o historiador David Starkey, em comentário disponível em The NationalGallery, este retrato de Erasmo marca o inicio, de fato, do retrato realista além de representar a invenção da própria personalidade considerando o fato de neste período a pintura ser composta não só de imagens,mas também de palavras que ora fazem relação com o retratado, ora expõem as idéias do artista. Neste caso, a pintura de Erasmo é apresenta objetos que simbolizam os interesses e a profissão do humanista, como sua tradução do Novo Testamento para o latim em que Erasmo se apóia; no mesmo objeto há uma frase que evidencia a qualidade artística de Holbein “ I am Johannes Holbein, whom it is easier to denigrate than to emulate.” (Tradução para o inglês disponível em The National Gallery)


A Lady with a Squirrel and a Starling 1526-8, Hans Holbein
            Este retrato, provavelmente pintado durante a primeira visita de Holbein à Inglaterra, segundo o website The National Gallery apresenta o retrato de uma mulher muito provavelmente, uma babá chamada Anne Lovell, cuja família tinha como símbolo o esquilo, retratado na imagem junto à Anne, supostamente, e a um estorninho.


Referências
[1]Johnson, Geraldine A. Renaissance art: a very short introduction. Vol. 129. Oxford University Press, 2005.





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